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27 de dezembro de 2021 por João Curvello

Nós por nós

Ser estudante é inevitavelmente social. No hemisfério norte ou sul, as escolas contam com o atributo universal de impulsionar nossas primeiras conexões pessoais e memórias que serão alguns dos primeiros registros nos nossos cérebros do que é conviver em sociedade. Os "primeiros" acontecem nela: os primeiros amigos, os primeiros mentores, as primeiras brigas, todas as experiências que vão servir de base comparativa para as seguintes se passam, em sua grande maioria, entre mochilas, professores e quadros negros. Os anos formativos, época em que somos especialmente vulneráveis aos nossos arredores, costuram a vivência entre família, colegas e mentores e definem o tipo de infância que teremos.

Como se não fosse o suficiente, a educação também tem papel chave na vida adulta: estudos de 2020 revelam que pessoas que completaram o ensino médio ganham 38% a mais em relação à quem parou no ensino básico, e aqueles com diploma do ensino superior contam com 142 % a mais na renda. Ou seja, o ganho mensal duplica para aqueles que já foram universitários, fazendo da educação o mais seguro e mais acessível facilitador de ascensão social do país.

Nada seria mais lógico do que a priorização desse pilar humano tão fundamental à população, porém, o mais comum é o sucateamento, principalmente vindo do setor público. Apesar de ser o responsável de primeiro grau por atender as necessidades da população, a realidade de escolas públicas sem merenda, corte no financiamento de faculdades e a desvalorização do professor escancara como isso não tem sido cumprido. Do lado privado, a ofensiva vem pela priorização do capital em relação ao ensino de qualidade, ao empacotar uma soma de alunos - melhor chamados de clientes, nesse caso - muito maior do que um professor pode dar conta enquanto tentando dar uma aula proveitosa.

Vivemos em um país onde a educação, desde o começo dos tempos, foi moldada para atender aos interesses de um grupo superior que não a vive no dia-a-dia, e por mais que tenha mudado drasticamente desde a época dos primeiro reinado até hoje, esse aspecto permanece, intacto. A comoção em torno da propagação do conhecimento, entretanto, não foi imune ao tempo e felizmente cresceu. Apesar das adversidades, os professores e estudantes são os responsáveis por fazerem a máquina estudantil girar: com grêmios, com cursinhos populares, compartilhando conteúdo online de graça, criando comunidades para ajuda mútua. A formalidade da sala de aula e do cronograma pedagógico dão o esqueleto do que é esse período de 12 anos - no mínimo, para completar o ensino básico, como é direito da criança e do adolescente pela ONU - estudantes, mas são os alunos que dão à alma para essa jornada.

Não é de hoje que percebemos que somos muito mais protagonistas do que espectadores da nossa trajetória pedagógica, e nossa movimentação não pode parar até que todos os estudantes tenham as mesmas e melhores condições. Enquanto a educação não for direcionada aos que a fazem na prática, será nós por nós.

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